Dizem que o Sol brilha lá fora, mas de que adianta? Ninguém telefonou, ninguém se importa consigo... Só existe você e a sua almofada. Para quê levantar-se da cama, vestir-se, arranjar-se? Não tem vontade de falar com ninguém; só lhe apetece ficar a um canto a chorar... em solidão. Afinal de contas, ninguém se importa mesmo consigo...
Vivemos numa época em que as pessoas não se importam umas com as outras. Já reparou? Você espera partilha, mas recebe exclusão. Espera simpatia, mas recebe arrogância. Espera compreensão, mas recebe indiferença.
E é tão fácil a pessoa ficar magoada, acabar por deixar-se dominar por esse sentimento e viver a lamentar a atenção e o amor que nunca recebe...
Como podemos nós, seres sentimentais, sobreviver a tanta dor e rejeição? Uma das primeiras coisas que aprendi em muitas situações de decepção foi que não deveria esperar nada de ninguém.
Assim não haveria o risco de ninguém me magoar. Mas um dia percebi que essa atitude também não seria justa para ninguém. Já reparou? Quantas vezes nós, que sempre cobramos demasiado dos outros, acabamos por nos esquecer de telefonar a um amigo que está doente, que atravessa um período complicado na sua vida ou que simplesmente também espera uma atenção da nossa parte?
Esquecimento certamente não quer dizer que não nos importemos com os outros, mas se for o inverso – se alguém não nos dá a atenção que esperamos e precisamos –, depressa ficamos entristecidos e até magoados – como se nós próprios nunca falhássemos...
O que procuro fazer é tentar compreender o porquê de as pessoas nem sempre estarem disponíveis para mim. Escrevi “tentar”, pois não é algo natural em mim entender os outros.
Quantas vezes caímos na tendência de esquecer que as outras pessoas também têm uma vida – com necessidades, problemas, afazeres... Achamos que tudo tem de girar sempre ao nosso redor, como se nós é que fossemos o Sol. Mas a realidade, no entanto, é que nada gira em função de nós. Por isso é que, se não brilharmos, na verdade não correremos o risco de magoarmos alguém além de nós.
Procuro também encontrar formas de ser independente. Se alguém não está tão próximo como antes, cedo-lhe espaço e sigo em frente. Para quê ficar triste por causa de alguém que se afastou de nós? Não é inteligente da nossa parte correr atrás daqueles que estão a correr de nós.
Não faça aos outros o que os outros fazem consigo, mas se eles fogem de si, então deixe-os fugir. Mas se voltarem a si, então irão encontrá-lo exactamente no mesmo lugar onde o deixaram. No fundo, tudo o que se passa no nosso interior depende de nós próprios, e não dos outros. Porque só nós podemos ajudar-nos.
Por isso, se uma pessoa nos magoa, cabe-nos a nós somente recompormo-nos e seguir em frente. Não espere nada dos outros. Procure compreendê-los, mas seja independente…
Seja independente de compaixão, do consolo, da simpatia e da compreensão das outras pessoas. Seja imune. No fundo, você não precisa mesmo disso, certo?
Ninguém que tenha pena de si lhe irá tornar as coisas melhores ou mais fáceis. A compreensão das pessoas não irá desfazer o que você fez de mau ou de bom.
Não se deixe dominar pelos seus sentimentos se estes o fazem sentir-se deprimido. Para quê deixar as suas emoções tomarem conta de si a ponto de não querer levantar-se da cama de manhã?
Veja: a única pessoa a perder será somente você e mais ninguém. Temos de conseguir atingir um nível onde nos tornemos auto-suficientes. E isso só é verdadeiramente possível quando Deus passa a ser a única Pessoa da qual passamos a depender. Se o marido foi embora, tenha você pena dele. Se a sua amiga não lhe liga mais, coitada dela… Não é você que fica a perder!...
Se passar a encarar a vida desta forma, você nunca ficará a perder. Quem perde são aqueles que se distanciam de si.
Na fé
CRISTIANE CARDOSO